segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Ser e estar. Ser ao estar. Estar sendo. Não sendo.

All revolutions are impossible until they happen, then they become inevitable.



Uma queixa recorrente no meu relacionamento é que ele perdia muito tempo lendo. Talvez fosse muito mais uma manifestação da minha carência latente do que desapego à leitura. Afinal, eu lia. Mas, além de a leitura ser outra, eu sou mais do tipo audiovisual: leitura, apenas as legendas. Ou textos rápidos. 144 caracteres e eu sabia tudo. E vociferava em tweets desajeitados, todas as angústias do ser e estar (e do ser ao estar e do estar sendo ou não sendo).

Mas a verdade é que eu nada sabia. E, se não sabia, não comunicava com verdade. Ou, se com verdade, talvez ali não houvesse qualidade. Talvez, culpa da tenra idade. Mental. E física.

Agora que as rugas chegaram de vez e o nariz sofre o peso da gravidade, a grave idade deste retorno de saturno no qual não necessariamente acredito, mas os sintomas estão aí e astrologia é um ótimo adorno para qualquer texto, o fato é que eu precisei abrir livros. E a ansiedade da rapidez se tornou a ansiedade de não ser, para usar a palavra da moda, leviano. Fashion grammar police, e não há polícia que pacifique o não-saber. Ou o saber pouco. Mas sempre o saber-nunca-o-suficiente. Porque nunca é suficiente saber.

De histórias a corpos, me sensibilizei por uma causa que eu acreditava ser sensível desde os idos dos anos 2000, quando eu ainda cheirava rosas mortas e quando nós éramos a juventude. Baba, baby - olha o que perdeu. Baba, baby - a criança cresceu. Cresceu e ficou intolerante. Pirracenta. Manhosa. E a criança hoje enrugada não tem paciência para meios termos. Invoco então o apocalipse para bradar que os mornos serão vomitados. Nego terminantemente o modus operandi de um mundo que não guarda coerência em seu discurso. E aqui temos umas quinze doses de intolerância diárias, engolidas como comprimidos sem horários. E eu processo, processo, processo, mas não tenho muito saco para processos. Daí vem a primeira fonte de ansiedade: não mais quem sou eu, mas o que faço eu. Talvez eu esteja fazendo tanto, e polegares em riste sempre são mais agradáveis do que indicadores ameaçadores. E, no meio de uma coleção infinita de corações pixelizados, há sempre aquela vontade de fazer mais.

Aí caiu no meu colo a chance de fazer mais. Parecia muito bom. Mas, com o tempo, veio a parábola de que eu não posso acreditar que o carboidrato seja o meu melhor amigo a uma hora da manhã - é uma relação que pode até dar algum prazer, mas, depois de algum tempo, a azia e o gosto ruim na boca tomam corpo. E é um corpo corporativo, um corpo raso, um corpo que não faz sentido a não ser o incrível enaltecimento de egos cinzas cobertos por uma bandeira colorida que nada diz. Ao menos, não pra mim. E se eu contesto a corporação, é porque eu detesto como os corpos são formados em discurso. Os desvios são maravilhosos e é neles que eu quero repousar. Quero louvar o sinistro, quero me aconchegar nos braços de Satã, quero acordar naquele meio-fio meia-arrastão sinceramente nu e crudelíssimo em seu calor insuportável. Quero esse sangue cosmético escorrendo pela minha boca e os meus olhos roxos de canetinha hidrográfica. E com a mesma caneta, quero desenhar uma rua diferente, uma rua onde os miseráveis estejam do meu lado e que possamos hastear o estandarte roto das nossas imperfeições.

Mas de todas as imperfeições, eu descarto a contradição.

E na contradição de hoje, talvez haja uma boa dose de adição nestas substâncias confortáveis. É muito fácil ser a estrela de um show encenado sobre o estofado de uma cadeira cara. Por que não colocar os pés calejados para correr no asfalto quente e chorar lágrimas artificiais com quem em princípio, é a abertura de uma nova estrada? Por que não transportar as palavras desta folha branca e fria para os megafones? Que medo é este de pintar minha cara? Que medo é este de derrubar conveniências? É a antiga paixão pelo sofrimento, que transfigurou-se da tática adolescente "coloque uma música triste e sofra" para um método mais do tipo "corroa-se com as dissonâncias alheias e não faça nada para mudá-las"? Inegavelmente, é um ar muito mais tóxico que eu respiro. E, prestes a enlouquecer, se eu ficar preso entre as quatro paredes de sempre, vou me sufocar. 

Preciso ganhar o mundo.

One of the things that's happened, is that this movement has acquired an air of inevitability.

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