domingo, 24 de maio de 2015

30.

I cried enough tears 
To see my own reflection in them

Desde que entrei no Facebook, em 2010, sempre deixei minha página fechada para postagens. Acho que, por ser um espaço meu, logo eu, que preciso de um palco, nunca deixei que outras pessoas falassem por mim. Eu levo a rede social a sério: sempre depositei meus pensamentos. Sempre achei que, se alguém postasse em minha linha do tempo, este alguém estaria falando por mim. E eu nunca transei essa ideia.

Cinco anos se passaram. Cinco anos de Facebook, cinco anos de Rio de Janeiro, cinco anos de tentativas e erros, cinco anos de leitura, de aprendizado, de auto-conhecimento, de esbórnias, de ressacas, de marés altas, de noites sem dormir, de manhãs dormidas demais, de desbravamentos de zonas desconhecidas (norte a sul, oeste a no leste é o mar). E aquele Alan de ontem, que não deixava ninguém postar em sua timeline, permanece. Dono do palco? Talvez.

Mas, uma vez por ano, eu abro a página. Meu aniversário. Sempre permito que as pessoas depositem ali seus desejos para o novo ano que se instaura pra mim. Leio, sempre, um por um. Às vezes curto, às vezes o tempo é curto demais para curtir cada postagem. Mas meu coração fica cheio de alegria quando vejo todas estas participações (mais que) especiais adentrando em meu palco para uma dança conjunta, braços dados, afetos espalhafatosos e bites e mais bites de TAMOJUNTO.

E, normalmente, respondo no dia seguinte. Mas este ano não.

Acho que precisei digerir. Tive medo dos 30, devo assumir. Mudar de década, dentro de minha cabeça que leva tudo muito a sério mas ainda se porta como um jovem que receia tudo, tive que entender e aceitar que estava entrando em uma nova era, ainda que discursiva. Tive que lidar com o fato que estou distante demais daquilo que eu esperava de mim há quinze anos atrás. Mas tive também que aceitar que o tempo me transformou em algo que eu nunca pensei que pudesse ser.

E todos as felicitações me deixaram claro isso. Ano passado eu tive a breve certeza de que eu sabia o caminho que eu tinha que seguir. Este ano, com uma série de mudanças que me vi obrigado a enfrentar, pensei em deixar essa certeza para lá e aceitar que o mundo, como ele está estruturado, ditasse meu caminho. Mas não. Chegando aos trinta - e uma amiga muito querida me falou: "ah, mas fazer trinta é ótimo: é quando você descobre o que quer", eu reassumo o meu compromisso com a minha existência e desejo, ao apagar as velas, romper com tudo aquilo que eu não acredito. Sei do preço disso. Sei que estar no raso é muito mais confortável, mas estar no raso hoje não me foi suficiente. Eu quero o que transcende.

Isso vai gerar antipatia. Isso vai demandar muito mais leitura, muito mais sensibilidade, muito mais empatia e muito mais ciência de que o outro é uma diferença em si que precisa ser respeitada. Vou precisar de calma, de tempo (até os quarenta dá, né?), de uma certeza, ainda que interna, de que tudo vai dar certo. Por mais que comentários no jornal O Globo me digam o contrário, eu preciso acreditar que o meu norte (e o de tantxs outrxs) é o melhor, sem esmorecer, sem permitir que o pânico se instale a cada grito que contradiga a minha fé.

E hoje eu tenho certeza que eu tenho todas as armas que preciso para isso.

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