segunda-feira, 20 de maio de 2013

E quando deixa de virar estética e vira saúde?

Minha adaptação no Rio de Janeiro, entre trancos e barrancos, foi, digamos, satisfatória. Tenho amigos maravilhosos (e a quantidade de gente que compareceu no sábado para me dar um abraço por meu aniversário prova isso), um marido que supera todas as expectativas, que, além de me presentear diariamente com sua beleza, ainda me apresentou todo um novo conceito de "família", um emprego que garante meus ~luxos~, onde conheci verdadeiros amigos para toda a vida, e tenho tido a oportunidade de estudar. Contudo, para concluir isso, eu passei por muitos altos e baixos. Teve perrengue brabo, teve frescura minha, teve de um tudo. Acredito sinceramente que passei diversas vezes por processos depressivos, mas que, diante de todas as coisas maravilhosas que tenho angariado nos últimos três anos, eu consegui driblar, de certa forma.

A única coisa que me incomodou muito foi o meu peso. Em Teresópolis, eu tinha uma vida que me permitia ficar cinco horas diárias dentro da academia, correndo, puxando ferro e, óbvio, me entupindo de café. Quem malhou comigo naquela época sabe que a cada exercício que eu fazia correspondia a um golinho de café. No Rio, deixei de ter isso. Foi muita mudança, não tinha academia perto do meu primeiro apartamento e, no duro, eu queria me acabar de comer em tudo que restaurante que a minha "nova vida" me proporcionava. Claro, em Teresópolis, ao mesmo passo que não existe uma grande variedade gastronômica, a que existia, estava muito além do meu poder aquisitivo.

Resultado: engordei 23 inacreditáveis quilos. Saí dos 70 maravilhosos quilos (em que eu parecia uma boneca Bratz) para os surreais 93. Saí da seção infantil da Leader Magazine para ser ofendido com NENHUMA peça da Zara entrando no meu então corpo roliço. Claro, isso me incomodou. Muito. Não pela imposição estética, mas também por ela. A verdade é que eu nunca me importei muito com a ideia do "corpo do outro". Nunca classifiquei pessoas pelo formato do corpo ou o seu manequim. É torpe fazer isso e, embora sempre existam brincadeiras - que, shame on me, são fruto de uma condenação social daquele que foge do padrão imposto -, o fato mesmo é que não estou preocupado com o próximo - ao menos, não neste sentido.

Em dezembro de 2012, uma resolução: decidi emagrecer. E decidi emagrecer sobre uma mesa de doces natalinos, na casa da minha sogra. Eu vi que aquilo tudo não poderia/deveria me pertencer. Eu estava me achando feio. Alisei o cabelo para competir com a barriga que pulava da bermuda de elástico. Enfiei uma colherada generosa de pavê na boca para me punir: eu não estava me amando.

Estou contando quatro meses de vitórias e alguns escorregões. Sou humano, after all. Mas foram quatro meses de muita esteira, de termogênico, de esporro na academia porque eu só corria - e não malhava. Quatro meses em que tirei um milhão de fotos na frente do espelho e cheguei a chorar, silenciosamente, porque a barriga parecia não sair do lugar. Quatro meses em que pude finalmente uma regatinha M Navy incrível que comprei ano passado, mas que, obviamente, jamais entrou em mim. E quatro meses que, finalmente, entro em qualquer loja e peço uma camisa P.

Voltei a me amar, enfim.

Mas hoje, vinte de maio de 2013, a algumas poucas horas de completar 28 anos, teve uma cena singular que me fez repensar o que é isso tudo. Depois do meu treino, eu decidi que não iria correr hoje. Estou cansado, o plantão ontem foi um pouco cansativo e, como eu já formei minha opinião de mudar de academia (pela segunda vez) para uma que tenha aulas de Spinning (a salvação da lavoura nesta última barriga), acho que posso aguentar dez dias sem forçar no aeróbico e entrar junho afrontando as fogosas no bike indoor. Estou me alimentando, de uma maneira geral, exemplarmente, portanto, sem crises. Me deitei no colchonete para fazer abdominais, e um senhor, beirando os sessenta anos, parou do meu lado e começou a se alongar. Sério. Eu fiquei ENVERGONHADO. Eu tive a prova viva, a cerca de um metro de mim, que inexistem limites para o corpo. Muita elasticidade. E alguma coisa no olhar - determinado - dele me mostrou que nada daquilo que ele estava fazendo tinha a ver com estética. O cara exalava saúde. Eu pude ver em cada centímetro da pele dele que as taxas sanguíneas dele, muito provavelmente, estão melhores que as minhas. Fiz uma série a mais de abdominais do que manda o programa. Porque eu finalmente entendi o que estou fazendo ali.

A gente vê pessoas condenando gordos diariamente. Eles são, para a máxima social, um sinônimo de ausência de saúde. Da mesma forma que eu vejo pessoas entrando no perfil da Gracyanne Barbosa condenando o estilo de vida dela. Mas não, queridinhos. A realidade não é este paradoxo que vocês gostam de lançar diariamente apenas para tentar aplacar o recalque de vocês. Foda-se a Abercrombie e a crença de seu CEO de que "só existe tamanho XL por conta das pessoas com músculos hipertrofiados". Ninguém aqui pode pretender combater a homofobia, discutir sobre a distribuição dos royalties de petróleo ou xingar os envolvidos no Mensalão enquanto vocês tiverem uma visão tão deturpada sobre onde começa a política: o colega do seu lado.

A grande lição de hoje? Não sejam bonitos: sejam saudáveis. E saúde não é uma barriga tanquinho ou um bíceps de 40 cm. Saúde é ser feliz: seja comendo 150g de batata doce com peito de frango, seja comendo um BigMc.

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