quarta-feira, 15 de maio de 2013

Demétria.


Não me surpreende a fuga na inocência do ontem,
tampouco perpetuar o vazio das notas falsas:
apenas assim me sinto menos só.

Não me afugenta olhar as fotos envelhecidas,
e já não me apavoro com o osso contra o ocre:
faço do súbito grito na calada da noite calada,
meu amigo imaginário.

Eu, que tinha por único medo a solidão,
lido com ela de maneira implacável:
todas as poucas conversas são providas por cabos de fibra ótica
que, ironicamente, não servem para me deixar sem ar.

Não há tato, só há teto.
Sem mais paradas, só há paredes.

Mais um gole do café insípido e outro vídeo indesejado.
Mais um bocejo emaranhado na fumaça de oito cigarros.
Mais um pedaço deste sanduíche feito de pão velho e queijo vencido.
Menos uma noite de vida neste desespero.

Revisito portas, curas e igrejas,
disparo o corpo vão do arranha-céu de Demétria,
e ele é cortado pelo inverno frio do oeste.

Com um pára-quedas, toco o chão vulgar.
Durmo ao raiar do sol e acordo suspenso,
entre pesos e suores,
aguardando a próxima noite eterna.

Estou desesperado.

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