terça-feira, 28 de maio de 2013

Horses.

Ato I - Glória.

Eu queria que as minhas inimigas me vissem agora borrifando Carolina Herrera na sala porque o Bom Ar acabou.

Ato II - Redondo Beach.
Foram feitas projeções sobre como o homem será em 3014. Aumentará de tamanho, suas mãos ficarão mais longas, os olhos vão se aproximar e...o cérebro vai diminuir. E me pego na cozinha pensando "já tem meia hora que eu comi? Melhor comer meu arroz integral feat. solidão. Não quero perder massa muscular.

Mas estou aqui, diminuindo o cérebro. E está lindo.

Ato III - Birdland.
Tudo, absolutamente tudo, nesta vida, é falso. Não há nada atrás de você, a não ser um pano verde. O tal do chroma key. Provavelmente, nem você está ali. Está em outro estúdio - ou outra vida - sendo eletronicamente projetado para cá. Você não está sentado em um sofá. Apenas te manipularam, como boneco, para que ficar nesta posição ultrajante. Portanto, você não está confortável. Mas tudo bem: você é de plástico. Se quebrarem, consertam, jogam fora ou compram outro. O fetiche de desmontar o próximo e remontar um show de aberrações. Seu braço é seu nariz, seus olhos estão no umbigo e o rabo, entre as pernas.

Ato IV - Free Money
Acho que os meus momentos comigo mesmo - que agora são muitos - precisam ser organizados. Preciso dividí-los em três grupos: o amanhã profissional, o amanhã físico-emocional e o amanhã intelectual. E, embora exista a possibilidade de dividir os três pesos, dando mais ênfase para a algum e menos para os outros, eu simplesmente não consigo. Não é me natural. Quando eu deposito algo em algum amanhã, eu o faço com toda a minha força e velocidade. Modifiquei meu corpo visivelmente com a academia, em quatro meses recém-completados. Em quatro meses. Porém, o amanhã intelectual está prejudicado. Hoje, depois de muito tempo, voltei a estudar música. Pegar discos antigos, de artistas que eu sequer ouvia há duas semanas - apesar de seu peso e importância no mundo do entretenimento -, ler letras, ver histórias. Muito tempo. Notei que parei de baixar apenas singles, apenas por ter preguiça de ligar o computador, baixar a mp3 e sincronizar no iPod. E, devo assumir, muitas vezes voltei do trabalho SEM OUVIR MÚSICA por não estar aguentando mais. "Não tem música aqui". 78 Gb de música no iPod e eu falo "não tem música aqui". Certo. É esse sim o seu problema. "Tudo bem um amanhã em que sou gordo ou sozinho, se eu tiver sofrendo em Paris". Ou, talvez um "Tudo bem não ter lido todos os cientistas políticos do mundo, o que importa é que essa poltrona-do-papai está incrível". Mas, não. Não quero um amanhã cultíssimo e magro e com a pele incrível e os dentes iguais os de comercial de TV. Deveria querer. Mas não. O meu maior pavor, e que me faz depositar cada vez menos esforço nele, é um amanhã profissional fracassado. Depender dos outros. Sério. Não.

Ato V - Kimberly
Mermão, já era: estou passando o biscoito de leite desnatado na pastinha de soja de berinjela.

Ato VI - Break It Up
Como é viver a vida em preto-e-branco? Por favor, encarem todas as implicações filosóficas da pergunta. Eu me recuso a acreditar que antes da TV a Cores, as pessoas tinham cores. Era todo mundo em preto e branco. Tinha até um ou outro, mais sacaninha, que era sépia. Podia ser proposital. Podia ser a velhice e sujeira no vidro da tela. Mas cores? Não.

Ato VII - Land Horses
Do vocalise até o sintetizador,
sou seu.

Ato VIII - Elegie
Este é a pior parte deste estudo musical: eu descubro que Hilary Duff sampleou Patty Smith e tudo o que você quer é: morrer de vergonha.

Ato IX - My Generation
Vocês estão pegando o lado errado desta estrada. Vocês estão tomando sopa para não ter que mastigar, na mesma velocidade que pretendem comprar uma ideia pré-fabricada do que desenvolver um pensamento. Em todas as esferas: tem empresários que simplesmente gastam milhões para ter a opinião de algum "especialista" que, francamente, é exatamente igual a de uma revistinha de auto-ajuda. Assim, tem também o cara que lê um jornalzinho por semana, acredita em tudo o que está escrito e, Veja você: temos mais um robôzinho. Tudo muito fácil, tudo muito inventado. Voltemos ao Chroma Key: você está solto num espaço vazio. Não há nada além do mais imenso nada. Com um fundo verde. Mas não um verde-natureza. Você não se sente em uma grande árvore, seguro pelos galhos, protegido pelas folhas. Você é apenas um experimento científico, com aquele verde que berra muito mais que você, um berro mudo, sem cordas vocais. Jogam atrás de você um cenário único. Você, bem-sucedido, que já viajou todo O Globo. Tem seu carro, sua esposa e suas adoráveis criancinhas loiras, vermelhinhas pelo sol que afetou suas peles tão clarinhas. Sua casa, com um lindo quintal verde e, de longe, vê o cachorro latindo porque tem algo sendo depositado em uma caixa postal que ostenta um lindíssimo "MAIL" em dourado.Corta. Você não é isso. Você é só mais um que está pegando o ônibus de manhã, com seu uniforme amassado e o colarinho manchado do seu suor. É só mais um que, ao descer do ônibus, corre o risco de ser assaltado por alguém que tem menos sorte que você. Como, claro, se você tivesse sorte. Ainda não ganhou na Mega-Sena, que você, religiosamente, joga toda semana. O novo sonho brasileiro. Mas está imóvel no cenário. Não ingere uma palavra, quem dirá digerir um livro.  Pega o seu dinheiro no final do mês e paga o seu aluguel na cobiçada Rua da Mentira. Paga o seu carnê da Farsa Própria. E continua respirando em seus pulmões de plástico. Sendo examinado com um estetoscópio de borracha. Sendo medicado com um placebo barato. E sendo morto por balas Juquinha. E, então, desmontado e remontado. A sua cabeça está nas suas costas. A suas orelhas agora pulsam no lugar do seu coração.

E no final das contas, você meteu os pés pelas mãos.

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