domingo, 17 de agosto de 2014

if there's a future we want it now.

eu poderia contar a quantidade exata de cigarros fumados pela metade desde a última vez que fiz lágrimas suicidarem-se do alto precipício do queixo ao mais sólido chão desta folha branca. eu poderia inclusive publicar em algum jornal de grande circulação quantas vezes eu roí as unhas entre o último verão em que eu bradava uma magreza esquelética e o outono cujas folhas insistem em irritar a pele da minha coxa flácida. mas eu jamais poderia contar, com riqueza de detalhes, o desgosto.

se ao menos eu pudesse me alugar.
mudar de lugar.
deslocar.
tresloucar.

afinal, se eu não dou conta destas quatro paredes, para que pendurar quadros em no mínimo cem metros quadrados de desconforto?

afinal, se eu tenho medo de perder toda esta parafernalha que me guarnece, para que estar vinte e quatro horas por dia conectado a uma realidade em que eu apenas posso ser eu mesmo se eu esconder de um seleto grupo de amigos aquilo que eu penso?

afinal, que tipo de polis é essa em que eu sequer posso esbravejar da forma que eu fui ensinado - com calos, falos e embalos de um sábado à noite não dormido porém sem diversão?

não sou obrigado a mergulhar em sua esponja de hipocrisia e sair amarelo, inchado e cheio de gordura.

não sou obrigado a lidar com dramas adolescentes além daqueles que eu ostento.

eu sequer sou.

obrigado.

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