domingo, 24 de agosto de 2014

morro por conceição.


A rua, por si só, já era bastante íngreme. 

Mas, talvez em razão de meu ponto de vista, a subida era uma ideia quase insuportável, deitado no chão e observando pessoas andando - pela primeira vez - sem pressa, buscando a fortaleza de seus lares ou apenas para contemplar a ponte que liga o lá com o cá, tão pequena quanto a distância entre meu indicador e os rostos que passei a inquirir.

Grato aos céus pelo conforto do tecido leve, eu preferi, por bem, me permitir rolar, distanciando-me das duas ou três pedras com quem eu havia mantido um relacionamento perfeito durante quinze minutos: naquele momento, apenas elas me entendiam. Mas, ao ver que eu estava ficando tão cinza e rígido como elas, o adeus me pareceu o verbete adequado para a minha própria felicidade.

Porque não há, nesta estratosfera, uma justificativa plausível para me manter imóvel, receptáculo de solas de sapatos mais caros que aquilo que posso pagar e suporte de línguas que só fazem chicotear - ao invés de entrelaçarem-se umas às outras num ato concreto de amor.

Não quero ser cinza no hoje se sequer pretendo ser mármore amanhã.

Talvez esta tenha sido a grande Conceição - e por ela me apaixonei perdidamente. Ao me afastar do bucólico e reencontrar o asfalto, uma grande placa de sinceridade me foi estendida como que em um ato público de boas-vindas. Esvaziei os bolsos dos pedregulhos que lá ainda dormiam e, com os pulmões cheios de um novo ar, inflei até o mais alto de mim mesmo e, humilde, agradeci. 

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